Endocrinologia Pediátrica

Os hormônios regulam a vida do ser humano desde a concepção até o envelhecimento. Peso e estatura ao nascer e a evolução destes fatores até os dois anos de vida já predizem a chance de aparecimento de situações como puberdade precoce, diabetes e hipertensão. Isto, e mais a história pregressa das doenças prevalentes na família, compõe o “programming” do indivíduo.

Significa que a programação genética da pessoa terá maior ou menor chance de desenvolver certas doenças, dependendo da evolução do crescimento e peso, desde o nascimento. Portanto, as situações vivenciadas pela criança desde o útero até os 24 meses de vida, a história familiar de doenças crônicas (diabetes, hipertensão, osteoporose, câncer, infarto) e o “programming”, devem ser avaliados pelo endocrinologista, que deve dar as condições para um crescimento saudável e menos chances para que estas doenças se expressem ao longo da vida.

A Especialidade
A Endocrinologia Pediátrica é uma especialidade fascinante, e nos propicia e dá a chance de preparar e orientar as crianças com foco desde cedo na sua saúde de médio e longo prazo, evitando que se expressem doenças prevalentes na família, como obesidade, alterações da tireóide e síndrome metabólica, garantindo uma evolução hormonal de excelência em vários aspectos, como o crescimento final adequado, composição corporal ideal ou perto disto, orientação sobre os hormônios da puberdade e suas consequências para o organismo, além de orientação sobre aspectos sexuais condizentes com o aumento dos hormônios, tanto em meninos quanto meninas.

Orientação sobre dietas para crianças, pré-adolescentes e adolescentes atletas merecem uma atenção à parte e exames, aspecto nutricional e suplementos, são discutidos e analisados de forma científica e atualizada.

A Endocrinologia Pediátrica deve ser vista, então, como a especialidade que analisa hormonalmente o neonato (teste do pezinho), evolução do peso e altura até os 24 meses de vida (programming), velocidade de crescimento, e distúrbios da puberdade, tireóide, altura final, obesidade e detecção de alterações dos níveis de colesterol e triglicérides, principalmente a partir dos oito anos de idade.

A puberdade é a principal fase de ganho pleno de massa óssea, e as meninas em particular são orientadas em como atingir este objetivo, visando menor risco de evoluir para osteoporose no futuro.

Crianças diabéticas insulinodependente merecem um capítulo à parte.

Crescimento
Os pais devem acompanhar atentamente a evolução da estatura dos filhos. O pediatra deve avaliar se houve alguma perda durante o crescimento intra-uterino, observar atentamente a velocidade de crescimento até os dois anos de vida e assim sucessivamente.

Mesmo se tudo estiver normal, a menina deve ser avaliada pelo endocrinologista aos seis anos e o menino aos oito anos, quando alguns exames específicos como à idade óssea (raio X da mão e punho esquerdo) e dosagens hormonais, (se necessário) dirão se a estatura alvo quando adulto, será atingida.

Algumas variáveis fisiológicas, como a puberdade rapidamente progressiva em meninos, com rápida progressão da idade óssea e perda da estatura final, devem ser prontamente reconhecidas.

O uso de hormônio de crescimento e/ou intervenção para bloqueio puberal deve ser discutido em tempo hábil para a terapêutica, pois caso contrário não haverá mais como intervir.

Lembrar que a primeira menstruação é praticamente evento final nas meninas e o que resta de crescimento são, às vezes, poucos centímetros. Assim que a mama começa a mostrar estímulo (elevação do mamilo), pode indicar o início da puberdade, uma rápida evolução da idade esquelética e perda da estatura final.

Só uma avaliação especializada poderá fazer um diagnóstico precoce de algum desvio do normal e tratar. Para isto, a informação aos pais sobre que sinais observarem nos intervalos das avaliações se torna indispensável.

Hipotireoidismo adquirido, falência renal, desnutrição ou ingesta alimentar inadequada em qualidade, intolerância ao glúten podem também ocasionar déficit de crescimento. Micro-pênis ou pênis pequeno pode sugerir deficiência de hormônio de crescimento.

Nossa Proposta
Após o preenchimento de um questionário pormenorizado a respeito da vida clínica da criança, um exame físico detalhado é realizado, utilizando-se os mais precisos aparelhos, dotados de uma acurácia de reconhecimento internacional.

Lembrar que é importante trazer a carteira de saúde da criança ou adolescente e ter os dados da estatura dos pais e parentes próximos e doenças prevalentes na família. Após a explanação, se discute o diagnóstico, opções terapêuticas e visão em longo prazo da situação clínica.

A Puberdade
No início e durante a puberdade, enormes mudanças ocorrem no corpo de meninos e meninas. Nos meninos, a testosterona, hormônio masculino, promove ganho muscular, mudanças no aspecto da face (aumento das partes moles como nariz e lábios), pelos e mudanças na oleosidade da pele, além da acne. Ocorrem mudanças na estrutura corporal de forma significativa e um rápido ganho de estatura.

Na menina, começa o desenvolvimento das mamas e a menstruação, que ocorre regularmente ou não. Muitas vezes, estas irregularidades são normais e temporárias, mas se persistem, pode se diagnosticar ovários policísticos, que devem ser investigados e tratado. É comum a irritabilidade, a fase do “já vou, já estou indo” que nunca acontece, e os meninos são geralmente mono silábicos e as meninas, mais falantes e não desgrudam do telefone.

Com todas estas mudanças, uma das mais complexas é quando a mudança corporal evolui com ganho de peso (obesidade), ou a criança já estava acima do peso e entra e permanece com excesso durante a puberdade. Nos meninos, por maior produção de testosterona, que se converte à estrona (um precursor do hormônio feminino) e obesidade, pode levar ao quadro de ginecomastia (aumento das mamas).

Com isto, há tendência ao isolamento social, não tirar a camiseta na praia ou futebol e ficar no quarto, junto ao computador, onde ele se sente protegido, pois ninguém o percebe. Não é incomum, meninos se corresponderem com meninas na internet, se anunciando altos, atléticos e mais detalhes que agradam ao outro sexo. Passam horas trancadas no quarto, e o isolamento familiar é regra.

Meninas também têm este comportamento, param de ir à praia, ficam menos sociáveis, e os hormônios, pioram a textura do cabelo (engrossam e anelam), fato quase sempre um complicador para estas meninas, que muitas vezes acordam muito cedo, para se “produzir”, por exemplo, e aparecerem na escola com os cabelos mais lisos, pois isto pode ser um fator de “aceitação” por parte da turma.

Como é o nosso trabalho
Explicar quais os efeitos hormonais normais ou não, possíveis reações e em que pode prejudicar o desenvolvimento, além de orientação de como administrar os efeitos. Todos estes fatores da puberdade, podem sim, causar depressão em adolescente de ambos os sexos, e infelizmente muitos destes casos são sub-diagnosticados ou mesmo não diagnosticados.

No caso de adolescentes obesos: há uma epidemia de obesidade em adolescentes nos dias de hoje. Criança com nível de colesterol alto e hipertensão (pressão arterial alta), é achado comum ao exame físico e exames bioquímicos.

Há, geralmente, nesta situação, certo cansaço e por vezes incompreensão por parte dos pais com a situação. É sabido que os adolescentes tendem a comportamentos extremos. Então, emagrecem bem, mas podem engordar rápido, emagrecem de novo e assim vão, até atingirem um grau de amadurecimento psicológico e comportamental, que estabilize o peso.

Muitos pais não compreendem isto, e verdadeiras guerras são travadas em casa. A surpresa decorre do fato que muitos destes pais, foram ou ainda são, por exemplo, bulímicos. Ou seja, conviver e entender os adolescentes, principalmente aqueles que saem do “conceito” de normal, é uma tarefa importante e rica. A geração atual é excludente e não tolera muito os diferentes. Muitas vezes, para se “fazerem” incluídos se juntam à uma turma “da pesada” e o consumo de drogas se inicia.

Por isto tudo, vale a pena lembrar a máxima da pediatria; “Crianças e adolescentes, não são adultos pequenos”, são crianças e precisam de carinho, atenção, compreensão e estímulo.

Obesidade Infanto Juvenil
A obesidade infanto juvenil vem se tornando, infelizmente, epidêmica. Vários são os fatores que favorecem este quadro, mas os pais devem se conscientizar de que cada criança tem uma particularidade genética, ambiental e social. Assim, estabelecer a real causa do excesso de peso e intervir o mais precoce possível possibilitará vida longa e saudável a estas crianças.

Cada paciente deve ser examinado com uma história familiar e clínica apurada, e algumas características devem ser observadas antes de se cobrar da criança um emagrecimento, sem que a família e ela própria entendam o que acontece.

Muitos destes jovens têm alterações de receptores hipotalâmicos da saciedade, que os leva a comer e engolir os alimentos sem mastigar e rapidamente. Alguns têm irmãos que são magros e comem vagarosamente. Se forem filhos dos mesmos pais, o padrão genético de vários hormônios e neuro-hormônios estão em desequilíbrio.

Algumas características corporais como acantosis nigricans, que é um escurecimento nas pregas cutâneas, particularmente no pescoço, axila e inguinal, são o primeiro e grave sinal de que junto com a obesidade, a chance de desenvolver diabetes é alta. Pressão arterial elevada nestas crianças é comum.

Os níveis de colesterol e triglicérides destas crianças estão, quase sempre, elevados, com exames de carótidas, as artérias na lateral do pescoço, que levam sangue ao cérebro, mostrando certo grau de comprometimento, por vezes já em pacientes bem jovens.

É importante lembrar que crianças e adolescentes magros, podem ter elevação do colesterol e triglicérides e a história familiar é importante informação dos pais ao médico assistente.

O que propomos é uma análise criteriosa para um diagnóstico, estimular a criança e a família para mudanças seguras e em longo prazo, individualizando o atendimento e as orientações, medicando apenas em casos excepcionais.

A puberdade e a juventude são fases difíceis e boas ao mesmo tempo para estes jovens. A obesidade e toda a gama de problemas emocionais de sociabilidade e de saúde devem e podem ser evitados. Assim, a máxima de que “só é gordo quem quer”, talvez seja melhor entender como, “não se é gordo porque quer”.

Outra preocupação é com o desenvolvimento de ginecomastia (aumento das mamas) em meninos, pois apesar da obesidade concentrar grande massa de tecido gorduroso nas mamas (mega-ginecomastia), não se pode afastar a possibilidade de outras alterações hormonais, como tumores produtores de determinados hormônios.

O acúmulo de gordura na região púbica, muitas vezes torna o pênis embutido, e o menino pode começar a ter problemas emocionais, por achar que o tamanho do membro é pequeno, o que leva a constrangimentos e preocupação.